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segunda-feira, 20 de março de 2017

To The Moon: Uma história sobre Autismo e Origamis | Resenha

To The Moon é um jogo de aventura com a jogabilidade baseada em Point and Click que foi lançado em 2011 para PC - um daqueles jogos indies feitos pelo RPGMAKER e vendidos pela STEAM. A primeira impressão que geralmente se tem de jogos assim nem sempre são boas, afinal é um game com gráficos em 2D feito por um programa que qualquer um tem acesso, e isso em tempos de Xbox One e telas com resolução a 4k, infelizmente já não são bem vistos. Mas To The Moon vai muito além de gráficos, afinal teve uma equipe talentosa por trás, que foi capaz de nos trazer uma história completa, que qualquer estúdio grande de jogos (ou até mesmo de filme) ficariam com inveja. Antes de começar a ler fique ciente que esta resenha contém spoilers da história do jogo. Se quer aproveitar 100% a experiencia que To The Moon traz aconselho a ler somente após terminar o game.

Quando eu peguei este game para jogar eu já sabia que me emocionaria devido a uma resenha onde dizia que esse jogo teria uma história triste e que a maioria que o jogava se sensibilizava, mas eu não sabia absolutamente nada sobre sua história ou o que eu deveria esperar ali, muito menos que ele abordaria assuntos tão maduros e seria uma trama bem inclusiva. Em To The Moon você precisa conhecer os seguintes personagens:  Dr. Eva Rosalene e Dr Neil, que são médicos que tem como função entrar na mente de seus pacientes que estão a beira da morte e modificar suas memorias, de uma forma que os faça  acreditar que realizaram o seu maior desejo durante a vida (eles são contratados para isso). Esses dois personagens são bem diferentes. A Dr. Eva é a mais emocional, divertida e empática, já o Dr. Neil pode ser um completo idiota, que sempre faz piadas e tenta esconder seus sentimentos. Os dois juntos protagonizam quase todas as cenas engraçadas do jogo, contribuindo com diálogos dinâmicos e carismáticos, frequentemente proporcionado pelo contraste de suas personalidades.

Os outros dois personagens que você precisa conhecer são Johnathan Wyles (o senhor que contrata o serviço dos doutores para realizarem seu último pedido) e River Wyles (a esposa já falecida de Johnathan). Esses são personagens que você verá com frequência durante a gameplay e em diferentes fases de suas vidas. Perceba que, quando os Doutores acessam a mais recente memoria do Johnathan e explicam que são os médicos que ele contratou para realizar seu ultimo desejo, ele simplesmente diz que é ir para a lua. Ele não se lembra o porquê ou quando surgiu essa ideia, ele só sabe que quer ir para a lua. E para descobrir o real motivo dele querer ir para a lua e assim poder construir em sua memoria esse desejo sendo realizado, os doutores precisam voltar nas recordações dele buscando pelos cenários objetos e lembranças que façam ir mais e mais além, ate chegar em sua fase infantil e por fim descobrir o porquê desse desejo.

A jornada pelas memorias de Johnathan geralmente são de momentos com River, sua esposa, que foi diagnosticada tardiamente com asperger, que é um tipo de autismo mais brando que basicamente interfere no modo em que a pessoa interage socialmente. Pessoas com síndrome de asperger tendem a gerar interesse obsessivo por algum tema também. No inicio do jogo vemos muitos patos feitos em estilo origami espalhados no porão da casa de Johnathan e no Farol - local muito querido pelos dois. Mais tarde descobrimos que esses patos foram criados por River. Existe um motivo por trás dessa obsessão pelos patos que a River tinha, ela tentava fazer seu marido se lembrar de algo, e como sua síndrome a impedia de certas habilidades sociais, a maneira que ela viu de tentar fazer seu marido lembrar-se era com o patos em origami, que de certa forma, fazia parte dessa memoria perdida por ele. Algo que achei muito interessante nesta personagem foi o fato da doença que ela carregava não atrapalhar em nada em sua vida, o criador mostrou que ter esta síndrome não a atrapalharia de ter uma vida praticamente normal. Ela estuda, se forma e se casa. Ela é capaz de tudo que alguém sem a síndrome é, apenas se limita em sua habilidade social - fato que é trabalhado durante a gameplay. Vemos uma conversa do marido de River com uma amiga dela - também portadora de Asperger, onde ela explica algumas limitações causada pela doença e como admirava River por ser ela mesma, sem precisar usar uma máscara para viver entre os "normais".

Quando os doutores conseguem ter acesso a uma memoria muito antiga de Johnanthan, quando ele ainda era uma criança, eles descobrem que ele tinha um irmão gêmeo que foi morto acidentalmente pela própria mãe enquanto ela tirava o carro da garagem. Este foi um evento muito traumático - seria para qualquer um, imagine então para uma criança, perder seu irmão, por um acidente causado por sua própria mãe. Devido a isso, sua mãe provavelmente, o colocou em um tratamento do qual ele inseriria pilulas que o faria esquecer que teve um irmão (algo possível no universo futurístico que se passa o jogo), mexendo assim com todas a memorias que ele teve até aquela data em especifico, e era exatamente por isso, que ele não conseguia se lembrar do motivo que o fez ter esse desejo de ir para a lua - que River se empenhava tanto para ele se lembrar.

O jogo é uma história delicada banhada de sentimentos tristes e nostálgicos para os personagens. Ao jogar você sente aquela sensação de impotência ao ver toda a historia de vida do casal, todos seus momentos bons, seus momentos tristes e suas decisões que cominam com o resultado nos dias atuais. Em To The Moon você aprende o valor do presente, de viver, e o peso que suas decisões trazem, mas que  são SUAS decisões e que o final delas não são mais importantes que nenhum dos momentos que levaram ate la. O incrível de To The Moon é toda a delicadeza que nos trazem na história, todos seus momentos pensados e todo o sentimentalismo que está empregado em cada fase da vida de Johnathan. As revira-voltas bem pensadas no roteiro são o climax do jogo, carregadas de emoção que te comove ao deparar-se com o motivo da tão inesperada vontade de querer ir para a lua.

Não se deixe enganar pelo gráfico "ultrapassado" do jogo, To The Moon da um banho em muitos jogos atuais, se você procura uma história a ser contada ele é um jogo certo para você. Mas se você não tem muita paciência para jogos em estilo de Point and Click onde o objetivo está somente no desenrolar da história, sem puzzles ou jogabilidade difícil, então passe longe deste titulo, embora eu ache que todo mundo deveria conhecer esta história, que sem sombras de duvidas, é uma das mais lindas que eu tive o prazer de ler e vivenciar. Você pode comprar o jogo em português pela Steam clicando aqui por 17 reais.

Gráficos: 8,5
Jogabilidade: 8,0
História: 10
Desenvolvimento da história: 10
Personagens Carismáticos: 10
Musica: 9,5

NOTA FINAL: 9,3


[Créditos pela fanart para donutisgreen]

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