Você certamente pode me dizer que a geração atual apenas não saber jogar e por causa disso as empresas investem cada vez mais em gráficos e menos em dificuldade, mas será verdade? Dark Souls – já citado, entre outros, mostram que o publico não importa tanto assim com a dificuldade, na verdade, encaram como um bom desafio, e sua dificuldade atrai publicidade para cima do game (claro ele precisa ser bom além de difícil). Talvez a dificuldade de antigamente fosse ocasionada pelo fraco poder dos consoles que não possibilitavam os tantos avanços na jogabilidade que temos hoje em dia, talvez eles apenas estivessem usando a jogabilidade dos games de arcade como base, que eram difíceis para te fazer gastar mais moedas, ou simplesmente achavam que jogos deviam ser difíceis, afinal qual seria a graça de jogar algo fácil? Jogos, independentemente se eletrônicos ou não, supostamente deveriam oferecer desafios.
Quando criança, eu jogava muito a franquia Tomb Raider para o Psone. Nunca cheguei a terminar nenhum deles, embora quase tenha terminado o segundo game da franquia, mas devido há um problema em meu Mermory Card, tive que começar do zero e acabei desistindo. Tomb Raider era uma franquia muito difícil, cheio de puzzles, armadilhas e nenhum tipo de seta gigante gritando o caminho que devesse ser seguido. As coisas mudaram um pouco com a chegada do Playstation 2. Tomb Raider Legend, primeiro game da franquia para o PS2, após o fiasco do real e ignorado primeiro título (Tomb Raider Darkside Angels, que chegara aos consoles cheios de bugs, ocasionando na demissão de todo mundo que trabalhava na equipe), não só trazia setas nos mapas indicando os caminhos, como era extremamente curto, com menos armadilhas e quase nenhuma dificuldade. Em contra partida a jogabilidade, gráficos e ação era insanamente superior á seus antecessores. O mesmo tipo de situação ocorreu em Resident Evil 4. Tínhamos um game com uma jogabilidade e ação incrível, mas bem fácil de se finalizar do que qualquer um dos seus antecessores.
E falando de Residente Evil eu me peguei esses dias em uma situação desse tipo. Eu nunca cheguei a jogar as versões lançadas para o Gamecube (RE Zero e o Remake do primeiro game). Mesmo ciente das versões que saíram para o computador eu decidi pegar meu velho emulador Dolphin e experimentar Resident Evil Zero. Logo de cara minha nostalgia em relação aquela jogabilidade com câmera fixa me açoitou, era como se eu tivesse voltado lá pra 2004 quando eu conheci a franquia e passava horas vagando por Raccoon City e tentando aprender inglês para conhecer a história do jogo. Mas ao chegar à mansão eu me dei conta que estava em uma situação frustrante e minha nostalgia deu lugar para a vergonha; Sem munição o suficiente para matar um Boss, sem ervas para me curar e teria que voltar em meu último Save Point e fazer um monte de coisas de novo; economizar balas, correr de monstros em vez de mata-los, tudo isso para conseguir munição e medicamentos o suficiente para não ter que recorrer à faca e fazer papel de bobo tentando acertar o Boss com minha barra de status no vermelho.
Eu havia me acostumado muito com Resident Evil 4, 5 e 6. Onde não precisamos nos preocupar tanto assim com munição, pois sempre temos, nem com ervas, os lugares estão cheios delas. Uma situação desse tipo jamais aconteceria em Resident Evil 5. Claro, eu sei. A culpa não é dos jogos atuais e sim minha por me esquecer de que as versões antigas eram mais difíceis, entrementes, não seria uma amostra que os jogos atuais realmente nos deixaram moles? Queremos tudo na mão, queremos save points automáticos e munição aos montes. Dizem que os jogos atuais nos botam em uma situação mais condizente com a realidade, digo, se os temas fictícios dos jogos acontecessem, os jogos atuais seriam a melhor representação deles do que os jogos antigos. Mas, se analisarmos Resident Evil, verificaríamos que esse argumento tem salvas exceções. Se um apocalipse Zumbi acontecesse, você esperaria que no final de cada quarteirão que andasse aparecesse um menu ou um vendedor de armas para salvar a sua pele? Esperaria cair ouro dos bolsos dos inimigos que você mata? Encontraria curativos e munição em cada esquina? E no final das contas, a parte legal disso tudo, ao menos creio eu que para a maioria das pessoas, não é exatamente se sentir ali naquela situação tão difícil e agoniante que é um apocalipse zumbi ou que seja qualquer coisa que envolva armas biológicas?
É fato de que os famdons de qualquer franquia que tenha nascido no Psone ou Ps2 são divididos entre fãs dos novos jogos e fãs dos jogos antigos e as discussões são sempre as mesmas, e nunca, nunca mesmo eles se cansam de despejarem toda a fúria em cima das empresas que “estragaram” suas franquias favoritas. Tomb Raider, Final Fantasy, Resident Evil, World Of Warcraft, entre tantos, tantos outros, são jogos com fandoms fervorosos e divididos entre o novo e o antigo, o fácil e o difícil. Todas essas franquias caíram de cabeça na “era dos jogos fáceis” e não demonstram interesse algum em saírem dela. E o problema disso, são mesmo os jogadores atuais? Empresas de jogos são como qualquer outra empresa que existe no mercado. São como gravadoras de musica, como estúdios de filmes, companhias de TV. Todas essas empresas, e quando digo empresas me refiro na indústria geral, parecem passar por duas fases em sua vida; a fase desbravada e a era da estabilidade. Quando essas empresas são novas no mercado elas não tem medo de arriscar, elas estão ali para isso e muitas vezes conseguem fazer a coisa certa. Porém, quando a coisa certa gera frutos e por frutos eu quero dizer bilhões de dólares, eles se tornam menos desbravados e mais temerosos. Eles param de se arriscar e decidem jogar no seguro. Jogabilidade difícil? Não, claro que não. Games difíceis para eles é o mesmo que perder grande parte de seus jogadores mais novos que eles subestimam ao acharem que não conseguiriam desfrutar o jogo. Apostar em um gênero que não esta em alta? De jeito nenhum. Eles empurram todos seus jogos para o gênero que estiver mais jogado no momento. Afinal de contas, sendo isso ruim, neutro ou positivo - empresas, antes de tudo, pensam no lucro. Eles não lançam games para, sei lá, expressar sua visão do mundo ou qualquer coisa hippie do tipo. Pode até existir muitos desenvolvedores que botam sua alma em seus projetos, mas eles ainda assim, iriam precisar da aprovação das empresas responsáveis pelo jogo. Veja Silent Hills – o reboot de uma das franquias de terror mais queridas dos últimos 20 anos. A Konami simplesmente abandonou o projeto, deixando milhões de fãs irados, incluindo o próprio diretor do jogo, como ele deu a entender no último Steam Awards de 2017 em um comentário que fez.
É estranho que eu não vejo ninguém criticando fervorosamente Silent Hill por ter sido fiel a suas origens e fracassado, mas tantas pessoas criticando Resident Evil por ter inovado e feito sucesso. Será difícil de aceitar que se os jogos continuassem o mesmo eles se tornariam obsoletos? Resident Evil estava se tornando e isso saiu da boca de um de seus desenvolvedores. Na Época do PS2 e Gamecube. Resident Evil Zero e Remake não venderam bem, e RE ZERO era uma historia totalmente inédita! E se me perguntem, o Code Veronica passou meio batido também (acho interessante citar que Resident Evil Code Veronica é considerado o Resident Evil mais difícil dentre todos). E se voltarmos lá em 1999 notaríamos que Resident Evil: Nemesis também foi mal nas vendas – era mais do mesmo. Resident Evil 4 que reviveu a franquia de um modo sem igual, trazendo uma jogabilidade mais fluida e totalmente repaginada e agora eles estão fazendo de novo, tentando trazer o Survivor Horror de volta, mas de um modo novo, com Resident Evil 7, afinal o gênero horror voltou a se destacar, embora eu tenha achado RE7 muito genérico e um lançamento bem fraco para 2017. Mas, o que teria acontecido com a franquia se ela se mantivesse o mesmo? O mesmo game difícil e com câmeras fixas? Ele teria agradado o publico? Ou entraria em declínio? Acho que Silent Hill poderia te responder isso ou tantas, tantas outras franquias ou ate mesmo a própria franquia de Resident Evil se forem checar as vendas do Zero, Remake e Nemesis. Silent Hill só voltou a fazer barulho em 2013 quando se mostrou inovador, mas infelizmente o projeto foi cancelado.
As empresas precisam renovar a jogabilidade para manter o publico interessado e atrair mais jogadores, lançar seus títulos grandes (que sabem bem que irão vender) nos moldes atuais, até esse molde ficar obsoleto e eles entrarem em um novo ou voltar para o antigo (veja o remake de Re2 que irá sair em 2019). E não existe culpado algum nisso. Depois de muito tempo consumindo o mesmo as pessoas enjoam, elas querem partir para algo novo. Seja em relação à dificuldade ou á gameplay – e geralmente esses dois andam juntos. Você que está lendo isso pode não ser assim, eu também não sou, mas a maioria do publico é. Deve chegar um momento que os jogos voltaram a ser mais difíceis quando a jogabilidade atual cansar, o que não significa que os jogos serão como no passado com câmeras fixas, lutas por turno ou qualquer outra coisa que era ocasionada pela falta de poder dos videogames da época.
Mas o que fazer até lá? Os jogos podem até terem se tornado mais fáceis sim, mas não foram todos. E a culpa disso não é da geração mais nova de jogadores, eles não têm culpa de estarem pegando as gerações mais fáceis, eles apenas nasceram nessa era. São atraídos pelo melhor gráfico. Assim como os jogadores da época do Nintendinho também era e esnobavam “aquela porcaria de Atari e seus gráficos obsoletos”, ou a geração do Nintendo 64 fazendo o mesmo com a geração do Super Nintendo e a geração do Playstation 2, Xbox e Nintendo Gamecube que também faziam o mesmo com a geração do Psone e por ai vai. Já as franquias antigas precisam esculpir seus jogos com as cartas dadas na mesa; seguem a mare ou se arriscam – e empresas grandes que estão ganhando não gostam de se arriscar e elas precisam lucrar para se manterem. De todo modo mesmo tendo muitos jogos que são “fáceis” para quem está acostumado a um Contra, Zelda ou Resident Evil Code Veronica, vale sempre lembrar que a jogabilidade, gráficos e poder dos consoles de hoje em dia fazem coisas que muitas vezes muitos de nós, gamers antigos, sonhávamos em ver acontecendo nas gerações passadas. Talvez não podemos ter tudo em todos os jogos, talvez a jogabilidade fácil se ofusque com o resto das coisas que o jogo tem a oferecer , e se não for o caso, tem sempre a opção de jogar no modo difícil.
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