Minha primeira experiencia em Wasteland - Fallout 3 | Resenha

Fallout é um RPG que existe desde 1997, criado pela extinta Interplay Entertainment, lançado para computadores, na época ainda sendo um RPG de turno que se passava em um futuro distópico tendo toda a sua arte e universo inspirados na ideia (e paranoia) cinquentista estadunidense de como seria o futuro (carros voadores, robôs sendo empregados domésticos, guerras nucleares, mas todo mundo ouvindo rockabilly, doo-wop e vestindo roupas vintage). Mas
que paranóia é essa que você citou? Resumidamente, lá na década de cinquenta, os estadunidenses viviam com medo de uma possível guerra nuclear eclodir. É por isso que é tão comum a gente esbarrar em filmes ou séries que citam bunkers (aqueles abrigos no subsolo), pois diversos deles foram criados por medo da suposta guerra ou ataque nucleares. 

No universo futurístico de Fallout houve uma guerra nuclear, mas antes que os chineses (ou estadunidenses - não existem evidências de quem começou) soltasse suas bombas e mandasse o mundo pelos ares, uma empresa chamada Vault-Tech havia criado centenas de bunkers (chamados de vaults) para preservar a vida humana no planeta. Existe muita história por trás da Vault-tech (inclusive sendo a maioria sombrias), mas o que você precisa saber no momento é que o nosso personagem, vem de um desses vaults, há mais de cem anos depois de todo o ocorrido, sendo obrigado a enfrentar o mundo pós guerra nuclear e descobrir o que há lá fora (ainda existe humanidade? Quais foram os efeitos da radiação no planeta?).

Fallout 3 foi o primeiro game da franquia a ser produzido pela Bethesda Softworks, após terem comprado os direitos autorais da falida Interplay e mudarem drasticamente toda a gameplay do jogo. Veja bem, os dois primeiros Fallout eram rpgs por turno isométricos. Ao falar de RPG por turnos, talvez a primeira coisa que venha a sua mente seja Final Fantasy ou algum game produzido pelo RPG Maker, no entanto, Fallout te proporciona muito mais liberdade que qualquer rpg por turno lançado pelos japoneses naquela época. Você podia roubar coisas, chamar pessoas para seu grupo, flertar, ser bom, ser mal. Tinha uma quantidade grande de possibilidades para o seu personagem ser ou fazer. A Bethesda manteve muitas coisas dos jogos originais, no entanto trocou a gameplay de turno e visão isométrica, transformando Fallout no primeiro game de tiro em primeira pessoa que também era um RPG.

Eu comecei a jogar Fallout 3 ainda em 2017, mas nunca tinha vontade de seguir em frente, eu saia do Vault e pensava, caramba, formigas gigantes! Mas e agora? O problema quando você tem preguiça de iniciar um RPG é que ele não pega na sua mão e diz o que fazer. Você tem centenas de opções e precisa explorar. Em Fallout 3 você começa como um bebê. Você pode escolher seu sexo, nome e distribuir seus atributos como qualquer outro rpg. No entanto você terá que viver por um tempinho como bebê, depois como criança, adolescente, fazer uma espécie de “Enem” - o G.O.A.T no caso e só depois disso tudo que o jogo finalmente começa. Seu personagem é filho do médico do Vault e sua vida lá é comum como a de todos os outros habitantes (você até tem que lidar com filhos da puta importunando você e sua amiga). No entanto certo dia sua amiga te acorda e está uma confusão do caramba no Vault - seu pai fugiu e pelo visto cagou pra você. Isso causou todo um rebuliço porque era proibido sair, já pensou você voltar irradiado e de repente todo mundo do vault ganhar um braço no umbigo? O pai da sua amiga, que coincidentemente é o “presidente” do Vault tá putasso e quer respostas, mas parece que ele anda atirando primeiro e perguntando depois, então sua amiga te aconselha a fugir  para não morrer. O jogo desde o início já te dá muita liberdade, desde diálogos (responder positivamente, neutro ou ser filho da mãe) e inclusive liberdade para matar quem você quiser, então tu pode fugir ou simplesmente sair matando quem aparecer no seu caminho e dane-se. Eu fugi, afinal era o pai da minha amiga, acho que se eu o matasse a nossa amizade acabaria e possibilidades de futuras quests com ela também (ou mate ela também e foda-se. Venha para o lado negro rsrsrs).

Quando você sai do Vault na verdade ganha a quest principal “Procure por seu pai” ou algo desse tipo. Depois de andar um pouco por uma cidade destruída na qual só morava uma mulher dentro de um barraco cheio de baratas e comida irradiada ela te manda procurar a cidade Megatron e que talvez você ache informações lá. Lá na cidade você encontrará sim informações sobre seu pai além de várias side-quests, como por exemplo a possibilidade de poder explodir a cidade toda. O bacana de Fallout 3 são as side-quests, confesso que deixei meu pai pra lá e me adentrei em diversas side-quests, a imersão era muito bacana. O fato de você estar no controle e poder decidir o que irá fazer em vez de apenas salvar fulano ou terminar uma guerra você pode matar fulano ou se juntar a guerra. O jogo também conta com um sistema de Karma. Toda vez que você escolhe fazer algo positivo ou negativo isso influencia em seu karma. Se você roubar coisas, matar pessoas ou decidir fazer coisas ruins nas quests você perderá karma e ganhará títulos negativos. Isso influenciará como as outras pessoas irão te tratar. Mas ser muito bonzinho também não é um ideal, pois você pode deixar de receber pagamento pelas quests feitas simplesmente porque quis ajudar. Se você quiser subir de nivel rapidamente ser malvado ajuda muito, pois matando os NPCs você ganha XP e ainda pode saquear os bolsos deles. Isso te dá um fator replay muito grande, pois quando finalizar o jogo você vai querer jogar sendo o oposto do lado que escolheu e ver como terminará as situações. O jogo também consta com um sistema de colegas. Existem certos NPCs que você pode chamar para se juntar a você em suas aventuras, eles irão te ajudar contra inimigos, mas na maioria das vezes só vai ficar no meio dos corredores te impedindo de passar mesmo. Alguns desses npcs só se juntaram a você dependendo do seu karma.

No início eu achei que o mundo aberto de Fallout 3 era pequeno e sem graça, mas depois de explora-lo percebi o quão grande e cheio de edifícios e cidades ele é. Você passará horas fazendo quests em apenas um lugar, pra só depois ir explorar um novo. Pai sumido e motivos por trás disso? Nah, deixa pra depois, olha aquela cidade escravista, vamos matar todo mundo lá e liberar os escravos. Fiquei sabendo que uma mulher vestida de formiga está incomodando tal cidade, tenho que ver isso. Oh, talvez depois podemos ir naquela cidade mística no meio das montanhas e decidir se matamos ou não o “deus” deles. Falando em religião, esses “Filhos dos Átomos” são muito burros, veneram uma bomba e absorvem radiação, será que devo fazer algo a respeito? Usar diálogo ou força? Ser bom, mau ou neutro? O mundo de Fallout tem tanta história que seu objetivo de procurar pelo pai vai parecer menos atrativo a cada cidade nova descoberta. Mas claro que a quest principal também é muito boa, cheia de reviravoltas e ainda te possibilita lutar ao lado de um robô gigante no maior estilo daquelas séries japonesas antigas.

E afinal, o que há no mundo fora do Vault? Sim, existem pessoas, a humanidade conseguiu sobreviver a radiação, mas nada é como antes. As cidades não foram reconstruídas, então as pessoas basicamente vivem em destroços. Cidades novas geralmente são criadas com sucatas ou coisas assim. Não existe civilização fora das cidades, é cada um por si. Muitas gangues canibais e animais modificados pela radiação estão soltas pelo mundo, como formigas que soltam fogo, toupeiras ou escorpiões gigantes, ainda existe monstros originais geneticamente modificados por cientistas mal intencionados como os Super Mutantes ou os deathclaw (se vir um desses CORRA, aliás, tenta matar porque em algumas quests vai ser impossível correr de todos rsrsrs). Muitos desses monstros mais fortes podem esbarrar por você ainda no nível baixo, nessas situações é melhor mesmo correr. Existem facções civilizadas pelo mundo de fallout, mas geralmente se você é amiga de um é inimiga dos outros, basicamente existem muitas formas de morrer em Wastland (nome dado ao mundo de Fallout) e quase ninguém é simpático contigo.

Fallout 3 não abandonou totalmente o sistema de turnos. Você pode joga-lo como um FPS, mas também pode usar o sistema VATS (The Vault-Tec Assisted Targeting System), basicamente quando ver um inimigo você aciona essa opção e o jogo irá pausar para você poder escolher uma parte do inimigo para atirar, tendo porcentagens diferentes de acerto para cada uma dependendo da distância ou outros fatores como o local que o inimigo se encontra e o tipo de arma que está usando. Essa opção te possibilita, caso mate o inimigo, ver a cena de morte dele em câmera lenta. Foram várias as vezes que explodi a cabeça de meus inimigos, braços ou pernas e os vi voando pelo cenário em câmera lenta. Outros sistemas que existem em Fallout é o de hackeamento e de arrombamento. Existem portas e terminais de acessos que não são necessários entrar para cumprir quests, mas que pode achar coisas valiosas lá dentro (ou no caso dos terminais de acesso desativar inimigos robôs ou abrir portas trancadas eletronicamente). Para arrombar você precisa de grampos e confesso que é bem chatinho mexer naquilo, pois os grampos são bem sensíveis e quebram facilmente, Já para hackiar você só precisa acertar a senha em quatro tentativas (existem as opções na tela obviamente). Mas muitas portas e terminais de acesso são necessários ter um level alto nessas habilidades para poder ao menos tentar. Seu personagem tem diversas habilidades que precisam ser upadas, de uso de armas leves, stealth, poder de recuperação, ciência, habilidade para poder consertar suas armas, habilidade de fala para poder convencer os outros a fazer o que você quer ou cair em suas mentiras, entre muitas outras que são necessárias ou que ao menos cairiam muito bem em diversas situações, porém tendo poucos pontos para preenchê-las te obrigado a focar apenas em algumas.

Fallout ainda conta com uma trilha sonora muito bacana se você curtir músicas antigas, caso contrário, bom, vai achar uma merda. Ainda quando estás dentro do Vault você ganha o seu Pip-Boy 3000, que é basicamente um relógio de pulso super equipado onde você pode ver o mapa, ver seu inventário, missões, saúde e claro; sintonizar em uma rádio.

O gráfico de Fallout não envelheceu bem, mas é realmente um mero detalhe comparado a quão imersivo o jogo pode ser. Eu já vi muita gente indicado o Fallout New Vegas para quem tá começando na franquia, eu ainda não o joguei, mas discordo. Comece pelo três, porque se o New Vegas for melhor você terá aproveitado 100% ambos, mas se jogar o New Vegas primeiro pra depois conhecer o três talvez o downgrade te decepcione. Fallout 3 fez história ao trazer para vida uma franquia já morta, inovando no cenário de RPG e FPS e definitivamente vale muito a pena tirar umas horas para conhecer a D.C pós guerra nuclear, matar alguns super mutantes, comer uma sopa de barata radioativa e salvar a cidade das ameaças (ou ser uma delas rs).

Gráficos: 6,5

Jogabilidade: 8,8

História: 9,3

Inovação: 8,8

Personagens Carismáticos: 8,5

Musica: 8,0

Nota final: 8,3